"The Quenns" - A Rainha Dimensional / Volume 01: A Primeira Coroa, parte II

Emma, a brava ruiva de cabelos ardentes

THE QUEENS
VOLUME 01 - A PRIMEIRA COROA
PARTE II - A RAINHA DIMENSIONAL


- Onde estamos Falco?

- Adentramos enfim ao Reino de Callanish, Emma, o quarto e último reino de Galléiah, na dimensão Vieksin, uma das sub-dimensões de Santuaria;

- Mais algum animal gigantesco para enfrentarmos agora que estamos em terra firme? - Falou a terceira do grupo cerrando a mão em um soco;

- Não se preocupe Angella - Continuou Falco - Aquela criatura me parecia mais com um Guardião do que com um mero animal selvagem, protegia esse reino, por algum motivo...

- É como o Oráculo do Refúgio me revelou, as Rainhas Dimensionais possuem guardiões, como uma santa - Disse Emma, seguida de seu animal de caça e vestida de suas crias, saltando do navio em frangalhos depois da dura batalha contra o patrono dos reinos - Angella não baixe a guarda e Falco eleve seus olhos ao céu, sem chamar atenção, guie-nos, pois vamos ao reino caçar a rainha.


Reino de Callanish
Seus companheiros desceram do barco indo em direção ao castelo de Callanish, seguidos por uma enorme sombra no alto que se ocultava nas nuvens, os olhos alados de Falco. Fumaça cobria os céus do reino à cinco horas de distância da costa, avisando aos caçadores que chegaram em um momento sombrio para os nativos mas, de certo, oportuno para eles. Uma densa névoa pairava pelos muros que protegiam o reino, e o frio tomava conta do local como se fosse inverno. Destroços de carroças e restos mortais marcavam o caminho até os portões lacrados. Emma, estarrecida, paralisou ao ver o que restou de uma mãe e uma filha, abraçadas e mortas, desmembradas porém, inseparáveis. Ambas com um singelo fio de lã como pulseira nos braços. E imaginou a luta em vão da mãe para tentar salvar a filha dos monstros que as atacaram. Isso lhe doera profundamente, de todas as coisas que perdera em sua vida, a sua mãe era a que inusitadamente lhe fazia mais falta. Ainda sem saber o culpado por tamanha atrocidade, Emma já o odiara. Falco pós sua mão no ombro da líder, para conforta-la.

- O que poderia ter feito tamanha atrocidade? - Perguntou-se Emma em voz alta;

- Lá vem sua resposta! - Respondeu-lhe Angella - E você dizendo que não haveriam mais animais Falco!


Um assustador ruído chamou a atenção de todos. Caçador, o animal de caça de Emma, rosnou para algo grande e negro que se aproximava sorrateiro pela névoa, e o grupo logo se viu cercado por uma duzia de outros que surgiam das sombras como o primeiro. Gigantescos ursos negros de dois metros e meio. E seu líder, o primeiro, levantou-se sobre as patas traseiras mostrando ser um metro maior que os demais, com a pele marcada de tatuagens mágicas e carregando com ele uma enorme marreta de ferro cujo vinha arrastando e produzindo o ruído. Era óbvio a todos que não se tratava de um animal comum, uma criatura carregada de magia e tão inteligente quanto um humano. O urro do urso negro ecoou por toda a entrada do reino, pelo inicio da floresta e pelas montanhas, assustando pássaros e animais silvestres por perto, avisando ao grupo para se manterem longe.

- Pelo visto parece que protegem a entrada do reino contra invasores - Angella percebera - E pelas mortes, os invasores para eles são os humanos!

- Dentro a situação é a mesma, uma chacina - revelou-lhes Falco, utilizando-se de sua visão dos céus - Todo o reino até o castelo está repleto de ursos, e a rainha deve estar lá dentro;

- Se não por chão, entraremos por cima! - Antes seu traje, agora suas crias se tornaram um par de asas reptilianas, uma negra e outra branca, conforme as cores dos filhotes que carregava sempre consigo - Separar e invadir Falco, nos dê cobertura Caçador e depois nos siga com a Angella. Nos encontramos todos dentro castelo, esperem minha chegada!


Peregrino e Falco
Os olhos de Falco desceram dos céus protegendo seu mestre, atacando e arranhando os ursos que avançaram contra o trio. Emma, ágil em voo, desviou-se de todos indo para o lado sul das muralhas sendo seguida por, pelo menos, três das criaturas. Enquanto Falco alçou voo para a extremidade oposta, utilizando-se das asas de seu animal de caça, Peregrino, magicamente "acoplado" em suas costas, semelhante as crias de Emma, e também seguido por algumas das criaturas.

Um par de asas de anjo surgiram por cima das roupas da terceira da equipe que ficara para trás, sendo auxiliada pelo animal de caça de Emma, com seus poderes celestiais Angella invocou Saber, sua espada. O tintilar de ambas as armas reverberaram pelo local, marcando o inicio de uma dura batalha contra o urso marcado que se mostrava excepcional guerreiro, tanto quanto ela. Sendo Peregrino agora suas asas, como fora seus olhos, Falco se via seguido por ursos escaladores ainda que estivesse em voo vertical rasante junto à muralha, e foi pego de surpresa ao chegar ao topo e ser atacado por outro urso que não se importava em se jogar para a morte. Agarrando uma de suas asas, os três se viram caindo em direção a um desfiladeiro, e logo depois seguidos pelos escaladores. Emma encontrava-se em similar situação quando chegando ao topo da muralha, para adentra-la, fora surpreendida por um urso que saltara em sua direção, jogando a ambos para baixo, próximo a uma floresta.


Nigros, os ursos negros
Eles caíram em um terreno ingrime que os levaram, as quedas, em direção à floresta. Enquanto bolavam a luta continuava, Emma desviava das mordidas e garras do urso sangrando suas mãos em contê-lo, e suas crias conjurava contra ele potentes raios de luz e de trevas. Já no interior da floresta em formato diagonal o desfiladeiro os levaram até próximo a um penhasco quando enfim pararam de cair. O urso mordeu um de seus filhotes e aranhou as asas de outro enquanto tentavam proteger sua mestre. Brava por ferir suas crias Emma conjurou seu elo com a natureza, e um simbolo mágico em forma de mariposa se abriu em sua testa, tornando-a um com a floresta. Sanguinário o animal não parava de atacar, e gritando a brava ruiva invocou cipós e raízes de toda a parte, que prendiam a criatura a medida que avançava em sua direção enquanto recuava. Na conjuração, como se brincasse com um cubo mágico, Emma decodificava e alterava o formato de uma pequenina esfera verde de energia com ambas as mãos para que desbloqueasse efeitos mágicos variados, movimentando os dedos como se tecesse uma teia ou digitasse algo. Como resultado capim, grama e raiz cresceram bruscamente, alterando a vegetação do local e prendendo-o, até chegar a um ponto em que na sua própria selvageria o urso acabou por morrer estrangulado. Emma se deu por aliviada por vencer tão feroz e implacável criatura, porém, não percebera que chegara na ponta do penhasco, e ao deslizar, caíra. Tragada pela escuridão do enorme vão sem fim Emma escutava suas crias feridas incapazes de voar chorando pela mestre e tudo o que desejava é que esperassem por ela. E lá ficaram, sozinhas, escondidas, enquanto esperavam o seu retorno.
      


Elo
Emma acordara, no meio da mata, zonza e desnorteada. Seu elo a salvara utilizando a vegetação para protege-la da queda, na hora, era tudo o que conseguira fazer. Mas estava sã o suficiente para perceber uma enorme besta bem a sua frente. A mesma? Não, outra! Conjurou os poderes de seu elo novamente em resposta ao bramir da criatura. Cipós simulavam chicotes ao atacar o urso negro, fazendo-o recuar enquanto ela levantava-se e afastava-se, porém três outros ursos menores surgiram por entre a folhagem atacando-a por sua retaguarda, vindo em regaste ao maior. Emma teria sido severamente ferida não fosse uma raiz que fez eleva-la até uma altura segura, onde pôde prender os quatro animais ao chão. Contudo os menores urravam incessavelmente, incitando o maior, deixando-o agitado, e quando percebera que os cipós não bastariam e que logo aquele local estaria infestado dessas criaturas, Emma não teve escolha. Tocando no tronco de uma arvore orando para a mãe natureza, um circulo de conjuração se formou e uma lança começou a ser confeccionada magicamente, mirando em direção à maior das criaturas que agora entrava num frenesi, em resposta aos menores livrara-se das amarras e avançava em fúria para cima de Emma. A lança fora atirada em direção à cabeça do urso maior, enquanto cipós calavam os menores prendendo seus focinhos.

- Deixe minha mãe em paz bruxa!

Um grito ecoou pela floresta, e uma flecha certeira impediu que a lança alcançasse seu objetivo, mudando seu trajeto e fazendo-a quicar e fincar no chão. Surpresa Emma nunca vira uma flecha parar uma lança antes. A autora do disparo surgiu à sua frente cavalgando um cavalo negro, mirando-lhe uma nova flecha. Emma com seus olhos mágicos, pode reparar que não apenas sua montaria era um animal mágico, como a própria arqueira. E não qualquer magia, ela era um Unique. Uniques são seres com habilidades únicas, mágicas ou não mágicas. E mais, ela estava disposta a proteger a criatura assassina. Ainda que ofendida por ter sido chamada de bruxa, ainda que sua mestra seja uma, pois elas são conjuradoras de trevas que utilizam poderes sombrios vindos de pactos infernais, diferente disso, os delas vinham da natureza, fazendo-a uma conjuradora de luz, uma Druida.

- Eu não sou uma bruxa! E, o que você quis dizer com... Mãe? Porque protege a fera assassina?

- Fera assassina? - A arqueira ficara brava - Não tenho que lhe dar satisfações, "Bruxa!" - A rebelde lhe apontou uma flecha armada em seu arco;

- Ora sua pirralha! - Gritou Emma enfurecida.

E na mínima intenção de ameaçar a arqueira, o monstro negro reagiu se pondo entre as ruivas, urrando com toda sua ferocidade para Emma. A líder dos Caçadores Dimensionais havia percebido então que o urso negro protegia a garota, assim como ela lhe protegera anteriormente. E se surpreendeu ao ver no braço do urso um fio de lã verde, assim como no braço da arqueira. Como a lã nos braços de mãe e filha que encontrara mortas. Muito provavelmente um costume daquela dimensão. O urso era de fato sua mãe. E antes de tentar imaginar como isso seria possível, ainda que em outras dimensões as leis que regem o universo trabalhem de formas diferentes, como Falco sempre falara, supôs o motivo mais óbvio para que todos os ursos negros que vira até então tenham se mostrado criaturas magicas.


- Amaldiçoada... Sua mãe foi amaldiçoada não é mesmo? Isso explica porque os ursos do reino podiam usar magia, resultante da maldição, além de serem extremamente inteligentes;

- Você foi ao reino e saiu viva de lá? - Perguntou espantada a arqueira - Quem é você afinal? 

- Me chamo Emma, vim de outra dim... De um reino distante. Depois de enfrentar uma serpente gigante dos mares jamais imaginaria que suas terras haviam sido tomadas e que eu teria que enfrentar ursos amaldiçoados!

- Não pode ser... - A arqueira olhou Emma com um certo brilho no olhar - Você é A Brava Ruiva das canções do trovador! Você e seus guerreiros derrotaram Lléss a serpente patrona dos reinos. Não posso acreditar! Eu sempre quis ser livre e velejar pelo mundo, enfrentando criaturas e desbravando matas intocáveis!

Em um semblante assustadoramente humano e engraçado sua mãe, o urso, revirou os olhos aos sonhos da filha, indo de auxilio aos ursos filhotes, desamarrando-os e lambendo-os. Enquanto a arqueira não parava de falar de seus sonhos, em sua inocência se expondo a uma completa estranha, Emma não pôde deixar de se comparar a ela em sua nostalgia. Tudo havia sido tão belo e mágico no início de suas aventuras pelas dimensões, e Emma não conseguia se lembrar o ponto em que tudo havia parado de ser divertido e entusiasmante e se tornando uma exaustiva obrigação. Precisaria dessa ruiva rebelde para entender o que acontecia naquele reino e descobrir a respeito de sua presa. A medida que conversavam e caminhavam por uma longo caminho que às levariam de volta para o reino, e para suas crias, a tagarela em seu idolatrismo acabou lhe contando tudo o que acontecera. Dando-lhe pistas sobre seus poderes uniques e como funcionam, e até mesmo sobre a maldição. O que Emma não havia imaginado porém, em todo o caminho até o dia seguinte e o fim deste, era que estava se apegando à ela, vendo nela uma versão sua quando mais jovem, aventureira e ingênua.



Pela manhã do terceiro dia desde que Emma aportara à Callanish enfim chegaram em um ponto onde terminava a Floresta Amaldiçoada e começara a parte urbana do reino. A Ruína dos Ursos, onde deuses ursos eram adorados no passado pelos nativos das ilhas. Margaret é a quarta, e mais velha, filha do rei Fergulus e da rainha Elionor, que foram amaldiçoados, junto a seus irmãos, a se tornarem ursos por Mahur, uma bruxa e líder dos ursos negros conhecidos como Nigros. A princesa também contou que a bruxa não só lhe usou para transformar sua família, como para fazer seu pai assassinar os reis de Galléiah como fruto de uma vingança ao primeiro rei e rainha de Callanish, que invadiram suas terras e expulsaram os nativos para a floresta. Por sua vez toda a floresta fora amaldiçoada pela primeira rainha, tornando-os os então Nigros. Margaret fora salva da morte por sua mãe que recobrara a consciência, junto a seus irmãos, e fugiram para a floresta, o rei não teve tanta sorte. Observando um tipo de erva que ela vira pela primeira vez descobriu, através dos relatos, uma preciosa pista sobre a maldição. E também com relação aos poderes uniques de Margaret, eles se associavam a essa maldição lançada ao reino duzentos anos atrás, seu dom permitia ouvir e enxergar os humanos na forma original. Ela mesma referia-se a sua mãe e irmãos, não como ursos, mas como humanos trajando pele de urso. O que Emma poderia fazer para mudar essa situação e o triste destino daquele lugar?

- Ok! Deixe-me tentar algo - Emma se concentrou, sentando-se no chão em posição de lótus, ativando seu elo - Falco, um de meus companheiros é bem mais hábil que eu nesse quesito - Ela coletou algumas ervas negras do local - Mas ele não está aqui, então vamos por as lições em prática;

- O que vai fazer? Alguma bruxaria? - Perguntou Margaret;

- Ora garota já falei que... Enfim, esquece! Peça para seus irmãos continuarem a procura pelas minhas crias enquanto me concentro e fique em alerta, o que quer que aconteça não me acorde! Pois posso ficar presa no mundo dos mortos para sempre!


Emma tentaria contacto com o lado espiritual das ilhas, Falco era especialista em Xamanismo, mas Emma teria que tentar. Para ela Mahur é seu alvo por se tratar da nova rainha do reino, mas não poderia simplesmente deixar a família da garota continuar amaldiçoada antes de irem embora. Se tratava de uma maldição lançada a duzentos anos atrás, se tivesse sorte em conversar com algum espírito daquela época poderia ter mais detalhes sobre como ela funciona, e se soubesse quebra-la quem sabe as coisas ficassem mais fáceis.

Enquanto Emma se concentrava Margaret, sua mãe e seus irmãos, se maravilharam ao verem os lindos sinais luminosos, que levaram a princesa à bruxa pela primeira vez. Fogo-fátuo surgiam por toda parte. Quem diria que são espíritos? Um deles se aproximou de Emma e pareciam estarem em sintonia. Mas o espetáculo de luzes logo se encerrou quando rosnando sua mãe avistou um visitante inesperado. Assim como os demais ele trajava pele de urso, e Margaret sabia se tratar de um Nigro. Mas não era o suficiente, consigo ele trazia amordaçados dois filhotes de lagartos alados, as prováveis crias de Emma.

- Princesa Margaret, vim em nome de Mahur - Disse o Nigro com uma lança - A rainha decidiu voltar atrás no que se refere à sua pena de morte e a condição de seus pais. Contanto que nos entregue a pirata do reino distante!

- E porque eu faria isso? - Respondeu a princesa mirando uma flecha para sua cabeça;

- Mahur diz que ela é uma ameaça para o destino do reino!

- "Destino do reino" - Parafraseou Margaret como se lembrasse de algo muito importante - Basta eu ir com minha mãe, meus irmãos e a "pirata" ao reino para que ela me deixe em paz e quebre a maldição dos meus pais?

- Exatamente princesa, eu devo leva-las à Mahur!

- Obrigado por esclarecer, certamente levará! - Margaret lançou a flecha que acertou a cabeça do Nigro, matando-o imediatamente. Ela sabia que precisaria tomar esse tipo de escolha daqui para frente se realmente quisesse salvar sua família e todos os outros do reino. Libertando as crias de Emma para apenas logo em seguida serem pegues prisioneiros por seus irmãos, à seu comando.

Enquanto isso Emma estava mergulhada no mundo espiritual. "Não era minha intenção!", "As amava de todo o coração", "Mãe e filha", "Traição", "Poder dos deuses"... "Mãe e filha!" Emma repetiu com alegria essas palavras após retornar do mundo espiritual como se tivesse descoberto a chave para todo o mistério, e para seus objetivos em inclusive ajudar a princesa e sua família. Mas fora surpreendida com uma flecha sendo apontada para sua cabeça. Margaret não só a ameaçara, como também tomara suas crias como prisioneiras, podendo a qualquer leve intenção de revidar torna-las a refeição de seus irmãos.    

- O que pretende princesa? Me entregar para Mahur? - Perguntou Emma;

- Isso depende, o navio destruído na baia com um kelpie esculpido na proa é seu?

O olhar confuso de sua ídolo revelava que de fato era a dona do navio, Emma não entendera a importância disso mas, para Margaret estava muito claro. "Quatro Clãs e Quatro Barcos de outros reinos se aproximam de seu reino", havia dito a bruxa, "Quando um Kelpie chegar à encosta e subir ao solo marcará o início da cadeia de eventos que mudarão o destino de todos. Do reino e o seu". Emma e seus guerreiros eram o quarto clã de um reino distante que a bruxa havia predito, fora graças à chegada deles que o destino de todos haviam mudado, incluindo o destino da própria princesa. Emma agora se tornara a chave para sua liberdade.




Cativa a ruiva adentrava as muralhas antes intransponíveis seguindo o Nigro mensageiro com a lança, o reino invadido e guardado por ferozes Nigros à serviço da bruxa da floresta amaldiçoada. Ambas as ruivas encapuzadas, captora e prisioneira, acompanhadas de seus Nigros antes família, um deles carregando em sua boca as crias de Emma, eram também acompanhadas pelos olhares de ira dos ursos negros por todo o caminho até o castelo e a sala do trono, onde se encontrava Mahur, à sua espera, e seu guarda costas o Nigro marcado com seu martelo. Em outra vida o rei Fergulus, pai de Margaret, que por algum motivo, diferente da mãe e irmãos, sucumbiu à maldição e se tornou apenas o urso e nada mais.

Mahur, ainda ferida, sorria ao ver a princesa entregando-lhe a pirata. No seu ultimo encontro a princesa lançara uma flecha contra ela, e se não fosse por sua magia tê-la movimentado alguns centímetros para a direita, a flecha teria lhe perfurado o coração. Ela sabia que a princesa faria de tudo para ter seus pais de volta, mas a bruxa mentira, pois isso era impossível, se fosse, ela mesma já teria retornado à sua forma humana e não teria passado centenas de anos presa na pele de um urso. Desde humana, escondida da mãe, ela orava incessantemente para que os deuses da ruína dos ursos mudassem sua vida e seu destino, fora lá que ela encontrara seu amor, mas os deuses lhes viraram as costas quando foram amaldiçoados, e quando perdera seu amor resolveu virar as costas para eles também. 

Agora em sua posse estava a líder do quarto clã de um reino distante. O Nigro mensageiro com a lança jogou-a aos pés de Mahur. Seus amigos jaziam presos em estacas enfeitando a sala do trono juntamente com os príncipes poupados dos outros três reinos de Galléiah, os próximos a serem conquistados depois que unificarem todo o pais e a intitulassem a única rainha. Até mesmo o lobo da cativa estava preso, amordaçado, deitado ao lado de seu trono como seu novo animal de estimação. Em sua visão a forasteira seria a responsável por mudanças, e Mahur sabia que não poderia deixa-la viva para o caso de a sorte virar contra ela. Sem os deuses, ela mesma seria a responsável pelo seu próprio destino.

- Muito apertadas? - A bruxa perguntou sarcasticamente à calada prisioneira jogada por Fergulus aos pés do trono sobre suas algemas de madeira - Espero que sim, pois você não mudará mais o destino de ninguém! - Mahur sorria, mas foi interrompida por um som que conhecia bem, uma oração, semelhante ao que fazia aos deuses ursos - Magia... Quem está fazendo isso? Quem está conjurando uma magia? Revele-se!

Mahur olhou para a princesa Margaret mais distante do trono, próxima aos prisioneiros, e algo brilhava por debaixo de seu capuz. Seria dela que viria a tal oração? Unique sim, mas bruxa? Não poderia ser! No minuto que a bruxa ordenou que seus súditos a calassem círculos de magia surgiram em diversos pontos distintos: Nos troncos que prendiam os príncipes e os companheiros de Emma, transmutando-os em lanças; Nas algemas de Caçador, destruindo-a; E enfim nas algemas da ruiva cativa, transmutando-o em um arco e flecha, ruiva que tirando o capuz revelou sua verdadeira identidade.

- Dessa vez vou mirar na cabeça, Mahur! - Gritou Margaret lançando uma flecha à "queima roupa" à um metro de distância.

A bruxa sorriu confiando em sua magia negra que a faria movimentar-se para longe do ataque, mas estava enganada. A magia não a movimentou, pois liberto Caçador a mordera no ombro impedindo-a de se movimentar. A flecha da princesa acertou seu alvo, a testa da bruxa. Margaret sabia que não havia  escolha, ela não pararia. E se pudesse realmente livrar seus pais da maldição, ela o teria feito consigo mesma e com seu povo. Vendo-a cair morta no chão lembrou-se da visão que teve de uma Nighe, a fada da morte, e ela estava certa. Alguém bem próximo à ela morrera. Margaret subiu em cima do Nigro mensageiro que destruiu sua lança e voltou a sua forma de costume, um cavalo negro, Aveia. Montada ela declarou vitória sobre Mahur. A investida pegou a todos os Nigros de surpresa, mas não cederam a queda da líder como a princesa imaginara e furiosos atacaram a todos com mais selvageria que de costume. Olhando para a tapeçaria acima do trono percebera o mal que havia feito ao mancha-la daquela forma. Sua mãe tinha razão, sua descrença pela tradição começara tudo isso, e seguindo as crenças de sua mãe ela esperava que também acabasse com tudo.

Os guerreiros companheiros de Emma, seguidos por seu fiel animal de caça, partiram para a defesa de sua líder enquanto ela continuava com as conjurações. O carrasco dos reis, violento, urrou e com seu martelo foi em direção à sua filha, que foi salva por sua mãe como na primeira vez, ela avançou contra o antigo marido. Os dois lagartos alados voaram já curados da boca dos Nigros, irmãos de Margaret, para atacarem de cima com seus poderosos raios, enquanto lanças foram disparadas contra os ursos soldados. Emma, que fingia ser Margaret, por sua vez, iria conjurar mais uma magia, a mais simples de todas, ironicamente a magia que salvaria todos do reino, pelo menos segundo a princesa, um truque de limpeza. Dedilhando sua conjuração em uma pequenina esfera branca de luz a mancha feita pela fruta amoras-tomate que Margaret atirara foi completamente apagada da tapeçaria, deixando-a impecável como sempre fora desde a época dos primeiros reis.

Os Caçadores Dimensionais e as crias se uniram à líder, e todos os Nigros sobreviventes em volta entoaram seu último bramido em direção à tapeçaria da primeira rainha. Os antigos reis Fergulus e Eleonor, pararam a sangrenta luta e também a observaram. Ela emitia uma forte luz divina e esse seria o fim da invasão. Nas casas dos aldeões cada tapeçaria feita por mãe e filha também brilharam em resposta à tapeçaria da sala do trono. Emocionada Margaret desceu de Aveia e presenciou todos os ursos voltando lentamente a sua forma humana, a maldição fora quebrada em todo o reino pelo poder da primeira rainha passada de geração em geração pela tradição, como sua mãe sempre lhe ensinara, "Enquanto a tapeçaria estiver intacta na sala do trono nenhum Nigro retornará ao reino". A princesa olhou a bruxa voltando a sua forma humana e reparou pela primeira vez em seu braço um cordão de lã branco, da mesma cor que o da primeira rainha na figura bordada da tapeçaria. Fogos-fátuos iluminaram ainda mais a sala do trono, e um deles acompanhou o espírito de Mahur deixar o corpo.


Os primeiros líder dos Nigros e Princesa
- Mahur era a filha mais velha dos primeiros reis e rainha - Disse Emma se aproximando - Conversei com o espírito do verdadeiro Mahur, o primeiro líder dos Nigros no passado;

- Porque ela buscava essa vingança então? - Incrédula a princesa não entendia;

- Em um ato de rebeldia ela se casou com o líder dos nativos na época da colonização em que os quatro clãs de Galléiah chegaram à Callanish. O verdadeiro Mahur, eles se conheceram nas ruínas dos deuses ursos, venerados pelos nativos os Nigros, apenas uma tribo adoradora de ursos. Por causa dela a guerra havia começado, pois ela não queria se casar com um príncipe, e sim com o índio.

- O quê? - Ainda com lagrimas nos olhos Margaret pela primeira vez se reconheceu na bruxa. Ambas princesas rebeldes que levaram seus povos à guerra.


- Mas seus pais e os outros clãs estavam vencendo a guerra - Emma continuo o relato do primeiro líder - Ela recorreu aos deuses das ruínas em busca de poder e atendendo a seu pedido os deuses ursos transformaram os Nigros em ursos. Através de uma erva coletada apenas na ruína dos ursos, quem beber do chá feito dessa erva se transformará. Não uma maldição da primeira rainha, e sim o poder dos deuses. Ainda sim seu líder foi derrotado pelo primeiro rei e morto no Pico Congelante e a princesa se exilou no local da morte de seu amado tomando seu nome, e passou a ser seguida por seu povo que fora exilado na floresta. A rainha era na verdade uma santa, a protetora de toda Vieksin, e usando seus poderes divinos abençoou a tapeçaria feita por ela e as filhas, incluindo a primeira princesa, para livrar todos do reino da maldição, mantendo-a apenas na floresta.


A primeira Rainha
- Todas mães e filhas fazem uma tapeçaria para enfeitar sua sala, seguindo a tradição da primeira rainha. Eu me arrependo tanto por não seguir os conselhos de minha mãe... - Margaret confessou;

- E eu me arrependo tando de não dar importância ao que realmente queria... Filha! - a verdadeira rainha Elionor já completara a transmutação, voltando a ser humana;

Emma presenciou mãe e filha se abraçando e se desculpando, Margaret por sua teimosia e Elionor por seu autoritarismo. Se a primeira princesa e a primeira rainha tivessem apenas se desculpado e esquecido o orgulho teriam evitado todo esse mal desde o princípio. Com a erva negra que colheu na ruína Emma pediu à Falco que fizesse um antídoto para Margaret, para o caso de algum Nigro sobrevivente na floresta resolva invadir novamente o reino. Ela percebeu a princesa bastante madura em poucos dias e sua visão com relação aos pais e seus deveres como princesa também mudaram. Mas ela não fora a única que mudara nessa aventura.

- Que tal festejarmos a vitória sobre os Nigros? - Emma sugeriu à rainha e a princesa, pegues de surpresa;

- O quê? Festa? - Angella se viu também surpresa, juntamente a Falco - Cadê nossa verdadeira líder e o que fez à ela impostora? - Todos riram;

- Você está certíssima - Fergulus, depois de fazer uma referencia à seus amigos reis mortos por sua próprias mãos, via nos príncipes, os novos reis, e em seus filhos o futuro de Galléiah. Depois de descobrir a causa da maldição sabia que algumas coisas deveriam mudar - O Festival da Conquista será celebrado mais tarde esse ano, e não só honrará a memória dos primeiros reis, como também a memória dos reis, nobres e plebeus mortos na invasão - Ele olhou emocionado para a esposa e filha - Nenhum príncipe ou princesa de Callanish será obrigado a se casar contra sua vontade, devendo ele mesmo escolher sua companheira ou seu companheiro.

O rei Fergulus se viu sendo referenciado pelos príncipes dos outros três clãs do país e sendo nomeado por eles e coroado o rei dos reis, o rei não só de Callanish, mas de toda a Galléiah. Receba também carinho de sua esposa e filha. Margaret nunca se sentira tão errada quanto à seus pais, pois eles poderiam lhe dar ouvidos sim e não precisaria de uma maldição para isso, sua rebeldia era a forma errada de agir. Por fim o Festival da Conquista fora o melhor que o reino vira a anos. Mãe e filha estavam mais unidas que antes. Os caçadores dimensionais se divertiram na celebração, Angella mais que todos ficando extremamente amiga do seu rival de luta o rei Fergulus, e foram homenageados por seus serviços ao reino juntamente com a princesa Margaret.

Pela manhã do dia seguinte Margaret descera as escadas para visitar seus novos amigos, mas ao chegar no quarto de convidados o encontrou completamente vazio. E uma carta de despedida de sua amiga Emma:


Emma


"Quando cheguei a Vieksin fui retratada como a Brava Ruiva
por um trovador e suas canções, mas então ao adentrar o reino de Callanish encontrei uma verdadeira brava ruiva.
Margaret, você se mostrou realmente valente, por enfrentar uma bruxa e salvar sua família,não desista de seus sonhos e desejo por aventura,
deixei um presente ancorado à praia com um Kelpie na proa, ele foi completamente reparado pelo meu elo.
Infelizmente tive que roubar a coroa da rainha,
não Mahur, não da primeira rainha e nem de sua mãe Elionor,
mas você, a coroa passada de geração à geração um dia seria sua
Você se tornaria o que chamamos de Rainha Dimensional,
seus poderes cresceriam a ponto de ficarem poderosíssimos
superando os poderes até de uma santa,
mas eles vieram junto com a coroa, e por isso não os tem mais,
me desculpe por isso
Se Vieksin precisar de ajuda novamente estaremos pronto a ajuda-la,
no mais, até lá, um adeus, de sua amiga,
Emma e os Caçadores Dimensionais".


Margaret

Margaret enxugou suas lágrimas, não triste por perder os poderes, mas por perder tão valiosa amiga. Ela se viu sorrindo ao imaginar as broncas de sua mãe pela coroa roubada. E quanto a não desistir de seus sonhos de ser uma aventureira Emma estava correta. Ela chamou Aveia e se dirigindo à praia decidiu pegar um atalho pela floresta, lembrando de seus bons momentos com sua mãe e irmãos quando estavam amaldiçoados, desbravando o interior da floresta amaldiçoada e encontrando Emma, decidiu aproveitar o momento de nostalgia. "Vire Nigro", gritou. E familiarizado com os ursos negros Aveia tomou a forma de um Nigro novamente. Mesmo estando decidida a não mais abandonar seus pais e o reino, como Mahur fizera, sabia que não precisaria fugir para saciar seus desejos por aventura. Ainda poderia velejar na imensidão do mar e desbravar florestas com seu navio que ganhara, afinal os príncipes precisariam retornar a seus reinos!




Fim...

Porém, as aventuras de Emma e os Caçadores Dimensionais continua...

(Inspirado em "Valente" da Disney, e no livro "Brava Margaret", de Robert D. San Souci e Sally Wern Comport, por sua vez inspiração para o filme).
 

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