"8 Casas" Capítulo II - Não é um robô

Outono


- Venham, venham, itens baratinhos para ajudar nas notas, na concentração e varinhas com magias convertidas para iniciantes! - Dizia o vendedor de itens na Feira Mística.
...

Outono

Como novata da Academia Arcana de Magias Luz & Trevas, você se pega sentindo duas sensações distintas ao mesmo tempo:
(1) Fascínio, por estar em uma escola de magia, onde tudo é, realmente como ouvi falar, mágico! Estruturas medievais, aprendizes por toda parte praticando, criaturas fofas e mágicas! De onde vim, até animais são raros;
(2) Solidão, por estar em um local cheio de gente, e ao mesmo tempo sozinho sem ninguém. Longe de casa e da família. Saudade de meus pais...

Androides da Dimensão Ferrugem
Não tenho muitos amigos. Todos me olham como se eu fosse o oposto desse lugar, como algo não-mágico. Poxa, logo eu que gosto tanto de magia! Do lugar de onde vim pessoas 100% humanas estão extintas, com o desenvolvimento robótico avançado é comum todos se aperfeiçoarem com próteses cibernéticas, implantes neurais, melhoramentos metálicos no esqueleto entre diversos outros.

Eu sou o mais próximo de um humano puro que existe na Dimensão Ferrugem, de onde vim, pois tenho apenas 50% de modificações em todo meu corpo. Afinal não tenho verba para um up-grade, a maioria de minhas alterações foram conseguidas de duas maneiras: Nascença e auto-aperfeiçoamento, que é muito perigoso, mas no lado "Ferrugem" da dimensão os pobres não tem escolha. Isso faz de mim um Androide.

Diglos, Familiar Camaleão
Um dos motivos para ter vindo à Academia é provar que tecnologia e magia podem andar juntas. Já tenho um dispositivo em fase beta para tal, e com isso quero desenvolver um método para ajudar àqueles da minha terra com algo que nos é essencial, o combustível. Nos arredores das grandes Megalópoles, cidades enormes, de Ferrugem existem diversos modelos ultrapassados que mal conseguem se mover, lutando contra a ferrugem e o esquecimento, eu pretendo criar um combustível mágico para ajudá-los, e ajudar a mim também.

Lembro-me bem quando cheguei aqui no verão, o modo como todos me olhavam. Uns me analisavam curiosos, outros debochavam, e lembro até de umas garotas super simpáticas que conheci e conversei bastante. Meus olhos mel, cabelos brancos, pele oliva, implantes nos braços e pernas só não chamaram mais atenção que meus brinquedinhos Ami e YumiMeus braços, extras, mecânicos de 10kg e um metro e meio de extensão cada, eles flutuam a altura de meus ombros e são feitos inteiramente de sucata. Há também Diglos meu familiar camaleão também 50% modificado com próteses, para melhorar suas habilidades em camuflagem e olhos protéticos para ampliar sua visão. E Canivete um droide de 45 cm de altura que auxilia, junto à Ami e Yumi, nas minhas construções e melhorias equipado com diversas ferramentas diferentes. Vou provar que me encaixo perfeitamente bem em um lugar mágico como esse.


Braços mecânicos Ami Yumi

- Você... Er... não vendemos equipamentos ... metálicos... - disse-me o vendedor de uma das bancas da Feira Mística olhando-me, deveras, intrigado enquanto filmava um tour com uma mini-câmera.

Ha Ha, relaxa bobo, um mero equívoco seu, eu não sou um robô! Sou uma meio-humana e meio-máquina, uma Androide na verdade e, sim, uso magia como todos os alunos dessa escola. Agora que tal me passar umas varinhas verdes! - Ignorei o possível preconceito mais afim de continuar meus experimentos e passear pela feira.


Vivemos na parte interna de uma placa de terra e rocha que se fecha como um anel e gira, como um peão, em torno de uma ilhota flutuante onde fica o Castelo da Diretoria. É fantástico olhar para cima e ver a outra metade da escola entre as nuvens, no céu, acima da diretoria. Ver o sol e a lua apenas nas diagonais, onde o dia e a noite é apenas uma questão da aproximação do anel com relação aos astros imóveis. Por isso muitos chamam esse lugar de Dimensão Peão, lema: "Nunca iremos parar de girar"... Calma, é brincadeira, o lema é "De bênçãos à maldições, somos de Luz & Trevas". No último ano teremos que escolher entre sermos Conjuradores de Luz, e usar magias com base em luz, ou Conjuradores de Trevas usando magia negra.


"De bençãos à maldições, somos de Luz & Trevas"

Também existem diversos lugares para se visitar na dimensão da Academia Luz & Trevas. Na Praça Central ficam os aprendizes que se unem para trabalhos e grupos de debate; na Lanchonete diversos namoradinhos; nos Laboratórios Alquímicos e Biblioteca Lunar os nerds; no Zoológico Multi-dimensional e na Floresta Mística os que gostam de explorar; no Cemitério os góticos de Necromancia; no Ginásio o pessoal do esporte que adora monstros; e na Feira Mística de fim de semana eu! Existem diversos outros lugares pois o Campus é enorme, mas minha admiração pela feira não me deixa visita-los, confesso.

- Ei! Ei você! Garotinha robô! - Disse-me um vendedor em certo dia. 

Olhei para uma das banquinhas, eu já estava cheia de bugigangas mágicas. Nela um homem lagarto me chamava. Sua banquinha era cheia de trecos. Amuletos, varinhas, cartas, pedras, cordões, pedaços de animais enlatados e uma imensa variedade de coisas que me pergunto como tudo cabia naquele cubículo. "Trollniano" alarmou meu tablet, com quinze minutos de atraso, acessando a rede de dados de espécies comuns na Luz & Trevas que escaneei na Biblioteca Lunar. Eletrônicos tem certa dificuldade de funcionamento na Academia. Trollnianos são criaturas parentes dos Trolls, porém com tamanho humanoide e com inteligencia superior aos seus primos. E o que é um Troll? Não faço ideia!

- Já ouviu falar das Baterias Mágicas Solares? - Me aproximei curiosa - Elas armazenam energia solar mágica para carregar qualquer aparato tecnológico de maneira ilimitada! Suas caixas mágicas - falava do meu tablet e nootebok - funcionarão para sempre! Sem precisar trocar ou recarregar! Não é incrível?

- Isso me parece níquel derretido, a não ser pelo excesso da cor dourada - Peguei a tal "bateria ilimitada" do vendedor, sacudindo o vidrinho lacrado toscamente com uma rolha - se fosse mesmo, ao menos, uma pilha ainda lhe faltaria Cádmio, Mercúrio, Zinco, Cobre, Cromo, Chumbo, Cobalto, Tálio, Ferro, Manganês, Prata, Estanho...


BMS
- Err... Tudo bem, tudo bem, entendi docinho - Já usava os dedos de Ami para continuar contando os ingredientes quando ele me interrompeu - Olha, porque não faz o teste? Garanto-lhe que não vai se arrepender!

- Não, Obrigada! - Sorri e me virei para retornar ao meu laboratório, digo, quarto.

- Tem certeza? Elas estão em P-R-O-M-O-Ç-Ã-O!!!

Poxa! Ele tinha que me falar a palavra mágica? Ha semanas eu testo uma magia de primeiro ano chamada "Marca Arcana" que nos permite criar nossa runa pessoal e falho criticamente, e um mero vendedor me vem com essa palavra como se fosse uma magia de oitavo ano e tem um acerto decisivo desses? Paralisei. Virei-me. Comprei... Droga. Odeio essa palavra!

A moeda corrente da Academia é a Valquíria. Aprendizes trocam seu dinheiro da dimensão que é convertido em valquírias para o uso dentro da escola para bancar materiais didáticos, itens, comida, ingressos para o Zoo e etc... Para os pobretões usamos a Carteira Estudantil Arcana. Começamos o ano com cinco pontos na CEA. Pontos são creditados toda vez que fazemos benfeitorias, para professores e membros trabalhadores da escola, e da mesma forma pontos são descontados toda vez que cometemos delitos. Gasto horas depois das aulas de Iniciação em Magia, única do primeiro ano, limpando a sala e apagando a lousa para ver se tenho a sorte de pegar o professor Galladrielloren de bom humor e lucrar uns pontinhos na CEA. Lógico que quase nunca ele está de bom humor, então raramente isso dá certo!

O limite da CEA é dez pontos por ano escolar, mesmo que já tenha acumulado mais que o limite. Se você tiver sempre a pontuação elevada na carteira será considerado um excelente aluno, mas se a pontuação de sua CEA chegar a zero você é simplesmente expulso e dá adeus ao sonho de se tornar um conjurador formado da Luz & Trevas. A parte que me interessa nisso tudo e que me banca aqui, é que podemos trocar um ponto da pontuação da CEA por cem valquírias! Quase fui expulsa esse semestre por gastar demais na Feira Mistica. E lá vai mais um pontinho para comprar essas malditas baterias que tenho certeza que não me servirão para nada! Espero que sobre "algum" para comprar um ingresso pro Zoo.

- Você não se arrependerá docinho! Você não é a única de sua espécie que estudou aqui na academia, há anos dois aprendizes, assim como você, me compraram as mesmas baterias e te asseguro que não se arrependeram!

- Espere! O quê? - Fechando as cortinas ele e sua banquinha simplesmente desapareceram como se nunca tivessem estado lá.

Dois de minha raça... Anos atrás... Olhei triste para meu tablet. Ele só poderia estar falando de meus pais. Também foram aprendizes da Luz & Trevas no passado, minha mãe do Grêmio Camaleão, de Invocação; e meu pai do Grêmio Coruja, de Ilusão.

Existem oito grêmios aqui na academia. Cada um deles relacionados às matérias principais da magia, que são a base do ensino aqui. Enquanto outras escolas focam apenas em uma ou outra dessas matérias, a Luz & Trevas sai na frente se tornando exclusiva a incrementar todas as oito matérias-classe no seu calendário didático. São elas:

Abjuração (proteção), Adivinhação (vidência), Encantamento (enganação dos sentidos),Evocação (magias elementais), Ilusão (ilusionismo)
Invocação (conjurar animais e objetos), Necromancia (estudo da morte)
Transmutação (transformação). A partir do segundo ano já podemos escolher qual delas adicionaremos à nossa grade de estudo e nos especializar em uma área, ou simplesmente estudar todas elas.

Matérias-Classe.

Já o Grêmio é um grupo de alunos formado por aqueles que pertencem a uma matéria-classe, liderada pelo melhor aluno dessa matéria, escolhido pelo próprio professor. Cada Aprendiz pode escolher apenas um, seja o grêmio refente a sua matéria favorita, ou, aquele grêmio cuja a matéria o aprendiz pretende se especializar. Os grêmios, e a fama de cada aprendiz, boa ou não, são os seguintes:

(1) Grêmio Tartaruga, os desconfiados, da matéria-classe Abjuração;
(2) Grêmio Águia, os orgulhosos, da matéria-classe Adivinhação;
(3) Grêmio Gato, os manipuladores, da matéria-classe Encantamento;
(4) Grêmio Peixe, os gênios, da Matéria-classe Evocação;
(5) Grêmio Coruja, os enganadores, da matéria-classe Ilusão;
(6) Grêmio Camaleão, os corajosos, da matéria-classe Invocação ;  
(7) Grêmio Corvo, os misteriosos, da matéria-classe Necromancia; e
(8) Grêmio Lagarta, os aventureiros, da matéria-classe Transmutação. 


Os Grêmios e suas Matérias-Classes correspondentes

Desde que cheguei na Luz & Trevas, não ouve um dia sequer que eu não pensasse no grêmio que desejo entrar. Meu segundo objetivo. O Grêmio Camaleão. Inclusive Diglos foi um dos presentes de meus pais. Todos os Aprendizes possui um Grimório onde escrevem todas as magias que aprendem. Eu possuo meu tablet, o outro presente. Nele anoto e gravo tudo que me é interessante e onde acoplei as, aparentemente inúteis, Baterias Solares Mágicas. Eu e Canivete fomos expulsos de nosso dormitório pela minha colega de quarto que não aguentava "os fogos de artificio", segundo ela, a noite toda, e fomos obrigados a trabalhar nossos experimentos escondidos na Floresta Mística, de dia, para não correr o risco de sermos pegues por Sentinelas, os guardas anti-mágicos que parecem besouros gigantes, depois do toque de recolher. 


...


- Formação Mecha! - Gritei só pra empolgar mesmo.

Ami e Yumi se acoplam à Canivete que abre de suas costas uma hélice, enquanto Diglos fica na parte superior dos braços que entrelaçam seus dedos formando um banquinho para me sentar. Com o super olho de meu familiar conectado à meus óculos especias poderia vasculhar facilmente toda a floresta mística das alturas até encontrar... Olha só! Que coincidência! Aprendizes de elite do Grêmio Camaleão treinando contratos para invocação de monstros na floresta. Todos os grêmios exigem testes dos candidatos para poderem ser aceitos. Para ingressar nesse grêmio você precisa ter ao menos um Contrato com uma criatura mágica qualquer, torna-lo seu marcando-o com sua runa pessoal depois de derrota-lo, isso te permite invoca-lo com a magia "Invocação" correspondente.         
Canivete, droide auxiliar

- Alerta! Alerta! - Gritou Canivete - Um monstro fugiu misteriosamente do Zoológico Multi-Dimensional no evento "Festival de Final de Ano" nesse instante e está correndo à solta descontrolado pelo centro da Floresta Mística!

Ha! Ha! A expulsão do dormitório valeu a pena! Mal sabe minha colega de quarto que aquilo que fabricava eram bombinhas pequenas o suficiente para passarem despercebidas. Onde qualquer aprendiz que, passeasse hipoteticamente pelo Zoo com um ingresso comprado vislumbrando os seres místicos pudesse coloca-la em uma grade qualquer sem ser notada, e potentes o suficiente para destruí-la fazendo uma das criaturas mais impressionantes do local fugir "acidentalmente"!

- Alvo à vinte e dois metros à oeste! - Continuou alarmando Canivete enquanto via por cima das árvores o vulto da criatura na floresta.

- Prepare-se Diglos! Mamãe vai impressionar todos do Camaleão derrotando um Lagarto Gigante de Três Cabeças da dimensão Wonder World. Depois será moleza ser aceita por eles, já que estamos no fim do ano e nos preparamos tanto para isso!

Assim que a criatura chegou ao local marcado utilizei meu tablet para acionar a armadilha que o prenderia. Feita basicamente de lixo e madeira, já que o vendedor da feira estava certo sobre peças metálicas serem difíceis de se conseguir aqui. Lá eu teria apenas que conjurar nele a "Marca Arcana" que vinha aperfeiçoando durante todo o primeiro ano e minha runa havia ficado incrível. Depois de preso e marcado, sem conseguir contra atacar, até mesmo uma criatura poderosa como ele teria que aceitar a derrota.

Porém na hora crítica, algo não saiu como planejado. As malditas BMS (Baterias Mágicas Solares) não haviam acumulado energia mágica solar nenhuma e meu tablet não estava funcionando como deveria, surgindo diversas mensagens de erro. Por  mais que tecnologia não funcione bem aqui, ele nunca havia me deixado na mão. Enquanto praguejava o trollniano mentiroso que havia me vendido as baterias no meio do ano, acabei me lembrando de algo que ele havia dito: "Elas armazenam energia solar"... E que burra que fui, caí na lábia de um vendedor barato! Na Luz & Trevas o astro brilhante que nos ilumina durante o dia não é o sol real. É apenas uma ilusão! Ele havia me vendido baterias inúteis!

Senti vontade de chorar nesse momento. Todas as noites em claro trabalhando no meu projeto de aperfeiçoamento do tablet dos meus pais, nessa versão beta, para poder usa-lo como um conjurador de magias foi em vão. Com raiva bati em sua tela com tanta força que devo ter danificado sua placa mãe, ele não quebrou, mas a tela estava colorida surgindo códigos de programação. Mas não poderia me dar por vencida, então mergulhei à todo vapor em direção ao monstro liberto para captura-lo com minhas próprias mãos... No caso Ami e Yumi, claro!

Mergulhei em direção à floresta em queda livre, Canivete acionou o sistema de freio, um pára quedas, para diminuir a velocidade e controlar os danos com o impacto. Galhos de árvore, seiva e folhas estavam por toda parte inclusive bloqueando minha visão e atrapalhando a navegação. Mas quando percebi estarmos próximos à criatura o agarrei de automático ativando o sistema de contenção de emergência dos braços mecânicos, que o agarraram com tamanha força que o paralisou. E foi então que...

- Não, posso acreditar.

Mais uma vez senti vontade de chorar. Ouvia diversos alunos se aproximando do ponto de impacto para presenciarem a caloura capturando uma das mais perigosas criaturas do Zoo já em exposição desde o começo do ano. Exceto que, na pressa, e com medo dos Sentinelas, talvez eu tenha jogado as bombinhas na jaula errada, libertando uma criatura nada amedrontadora. Aprendizes carregando o broche do Camaleão se apressavam por entre os arbustos para conferirem quem havia capturado a grande criatura que havia fugido. De grande heroína eu passaria para piada pelo resto dos anos letivos até me formar, manchando a reputação que minha mãe havia deixado no grêmio Camaleão.

- Espera! É isso!

Fui tomada por uma ideia nada honesta, porém brilhante, ao lembrar de meus pais. Meu pai necessariamente. Ele era um dos melhores do grêmio Coruja, os enganadores e ilusionistas. Lembrei também do infame vendedor que me enganou ao vender as baterias. Todas as lembranças me remetiam a enganar. E sem pestanejar acessei o grimório de meu pai, e para minha surpresa o tablet não só acessou a página com rapidez, mas serviu como meio de conjuração da magia, como se fosse uma varinha. Assim como eu havia o programado, porém, nunca testado por faltar ainda diversas configurações. Talvez as BMS estivessem durante todo esse tempo absorvendo outra energia mágica ao invés do sol, talvez minha própria energia mágica e transferindo-a para o tablet. 

Imagem Menor   


Lagarto Gigante de Três Cabeças de Wonder World.

Conjurei a magia que mal conhecia através do tablet que havia se tornado, talvez, pela primeira vez na história, um artefato mágico tecnológico. Uma união de magia e tecnologia. Efeitos luminosos cobriram completamente a criatura como um lindo véu prismático caindo sob ele. Quando os aprendizes do Camaleão e outros curiosos apareceram e me viram, diversos deles aplaudiram perplexos uma aprendiz androide de primeiro ano que havia capturado um Lagarto Gigante de Três Cabeças! Fiz meu papel, um tanto constrangida, pousando ao lado da caça completamente imobilizada pela força de Ami e Yumi enquanto rugia baixinho. E para finalizar, olhei para o aluno de mais destaque dentre os Camaleões usando um broche diferente dos demais e conjurei mais uma magia na criatura.

Marca Arcana!

Deixando minha runa tatuada no monstro como marca de minha vitória sobre ele selando então um contrato. Mais aplausos. Porém, conjurar essa segunda magia enquanto me mantinha concentrada na primeira foi um desafio enorme, e percebi então que não conseguiria mais manter a primeira ativa. Forçava-me para mante-la ativa, mas percebi as escamas do gigantesco lagarto se desmanchando lentamente e acredito que o aluno de destaque dentre os Camaleões também havia percebido, lançando seu olhar desconfiado. E a um passo de virar a maior chacota no meio de diversos aprendizes do grêmio que queria entrar, uma aluna gritou:

- Sentinelas!

Em um instante todos os aprendizes começaram a fugir, o mais rápido possível do local, muitos deles invocando diversas criaturas velozes para tira-los dali o quanto antes. Criaturas essas que nem nos meus sonhos eu haveria de conseguir um contrato para invocação. Ufa! Salva pelo gongo. Ouvia o bater de asas dos Guardas não-mágicos se aproximando. Ser pegue por Sentinelas e perder uns pontinhos na CEA ainda me parecia melhor que virar a piada da academia e perder a oportunidade de entrar no Grêmio Camaleão. Todos os aprendizes haviam se dispersado, assim como a magia que havia conjurado. Olhei para a criatura fujona e a libertei do abraço mecânico, e ganhei uma lambida como agradecimento. Se antes era uma imponente Lagarto Gigante de Três Cabeças, agora era apenas um CãoCrodilo filhote de meio metro. 

-Que ótimo cãozinho, você foi meu primeiro "grande" contrato! - Ele latiu como resposta.


CãoCrodilo


Mas não estava sozinha e alguém havia descoberto minha farsa. Uma voz feminina sorria e quando dei por mim percebi que nenhuma Sentinela havia chegado, e elas não eram lentas. Alguém havia dado um aviso falso. O igualmente falso sol de Luz & Trevas se escondia deixando nascer a igualmente, porém linda, e brilhosa lua. E o que eu pensava ser os Sentinelas se tratavam na verdade de diversas corujas que voavam vindas de toda parte se encontrando em uma única árvore situada atrás de mim. Paralisei. Virei. Olhei.  Nela uma garotinha encapuzada ao centro das corujas empoleiradas sorria e tomava chá. Ela havia visto tudo.

- Belo truque, enganou eles direitinho - Disse a garota misteriosa, deixando exposto seu broche de vidro violeta em forma de Coruja na base que prende o capuz.


Garotinha encapuzada e as corujas


Continua em:

"Capítulo III - Não é um Humano?"

Conto anterior: "Capítulo I - Não é um Elfo"

Verifique também o Índice dos contos.


Comentários

  1. Gostei da personagem, por ser um Android ela é bem fofa e Engraçada! E ainda tem muita
    coragem e determinação!
    Por isso gostaria de ve-la em apuros mais vezes 😂😂😂
    Obs: sem falar que ela tem muita ajuda um familiar e um robô! Acho mais justo deixa-la apenas com um dos dois por enquanto 😉

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    1. Que bom que gostou!
      Tadinha, já não tem amigos e vc ainda quer que ela perca seu Droide?! Afinal sem familiar ela ficaria incomunicável!
      Mas vejamos o que podemos fazer! ;]

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    2. Tira o robô e deixe ela apenas com o familiar 😂😂😂😊😉

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    3. Seria legal mesmo, poderia dá um bug e pifar, essa guria e muito chetada tem braço fodas de energia nuclear, sei lá, um familiar de que dá +20 de observar, e ainda um robozinho.

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    4. Que pena, adorei a formação mecha dela
      Mas seus pedidos são ordens!

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  2. Legal, assim como outro, ela também não foi apresentada imagino que isso vai passar a ser uma característica dos textos, imagino que para identificá-lo pela raça talvez?
    Até porque ela não é um robô como o título sugere e sim um androide.
    Vamos alguns pontos:
    - Ela fala que não tem muitos amigos, logo deve ter pelo menos um, poderíamos ter sido apresentado a ele ou eles, sei lá, só para ela se destacar mesmo do meio elfo que era sozinho por opção aparente, sei que ela cita as duas garotas, mas enxergando a personalidade não imagino que seja uma pessoa reclusa, e sim descontraída e curiosa, bom dentro da escola de magia não acredito que seja única, em fim.
    - Não existem mais pessoas 100% humanas, mas então já existiu né? Eles já nascem com próteses, ela cita que alguns aperfeiçoamentos que ela tem são de nascença. Porque imaginei que um jeito de corrigir esse problema da ferrugem, seria não fazer aperfeiçoamentos. Ela diz que não faz upgrades por conta da grana, mas não seria melhor para ela não os realizar visto que se tornar sintética aumentaria o risco de enferrujar, ou vendo da seguinte maneira, supondo que precise de um número x de energia para um corpo que é 50% sintético, aumentar essa porcentagem não consequentemente aumentaria no número x de energia consumida? Sendo assim ficaria mais complicado de não enferrujar? Não estou apontando erro nenhum, isso pode ser facilmente explicado com peças novas não enferrujam, ou qualquer outra coisa, usando um contexto tecnológico qualquer.
    - Num comprei muito isso dela sofrer preconceito por ter partes robóticas não, minha visão da LET e meio diferente, ainda porque dentro das característica dela 50% humana eu acredito que não tenha nada de tão anormal assim não, como ela mesmo coloca e de acordo com a imagem (que claro pode ser meramente ilustrativa), ela atribuiu isso as mãos dela, que acredito eu podem ser deixadas nos seu laboratório, digo quarto, isso pouparia um pouco de contratempo, já que ela as usa mais para realizar seus experimentos, caso isso não seja possível, por que são tecnologicamente ligadas a ela, poderia ser revisto.
    continua...

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    1. Olarr
      Obrigado pelos comentários analíticos
      Vamos às respostas! ;)

      01 - Ela realmente não tem amigos além de seu familiar e Droide! As duas garotas que ela cita é um ster-egg do primeiro texto, e ela não se tornou amiga dessas garotas! E ela é a única Androide da escola pq em Ferrugem pessoas não nascem com magia lembra?

      02 - Sim num passado distante lá existiam pessoas 100% humanas.
      Não é a energia que os faz enferrujar, nem um excesso de peças novas e implantes sintéticos, é a velhice! Eles vivem centenas de anos, e a cada upgrade vivem mais, porém se alimentam de combustível, não energia, e ela pretende criar um mais "nutritivo".

      03 - Que pena que não consegui me expressar de uma melhor forma quanto ao "preconceito", os alunos da L&T associam itens tecnológicos com algo não mágico, como ela fala, por isso lá não tem tecnologia, os conjuradores creem que Tecnologia e magia não devem se misturar pois não combinam
      De fato em Ferrugem os conjuradores tem mais dificuldade em lançar magias pois a tecnologia "interfere no sinal mágico e vice-versa"
      Ela possui próteses mecânicas como ela mesma fala no texto, braços, pernas, talvez pescoço kkk
      Ami e Umi não fazem parte dela, são acessórios e não contam como um implante seu. Agora imagine uma criatura quadrúpede, acostumada a andar de 4 patas ter que abandonar casa duas delas? A Andróide usa ambas como parte do seu corpo, como se de fato possuísse 4 braços! Ela já está acostumada a isso. Creio que deixei isso claro no texto, elas não são de uso exclusivo para o laboratório, como na parte que cito que ela as usa até para "contar nos dedos"...
      Por ser assim tão "tecnológica" é que gera a estranheza por parte dos alunos, acreditando q ela não "combina" com aquele lugar !

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    2. 01 - ... Mais nutritivo no sentido de fazer os andróides mais velhos viverem mais! Lembra do.combustível que acharam os os ursos polares e seus efeitos? Algo assim! ;)

      03. Quiz dizer "deixa-los em casa"

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  3. cont....
    - Vamos esses braços a e, “...mecânicos de 10kg e três metros de extensão cada, eles flutuam a altura de meus ombros...” de onde vem tanta energia? Como eles funcionam? Porque para sustentá-los precisaria de muita energia, ela vinda de onde fosse. Outra coisa achei as proporções exageradas, “10kg e três metros” como ela usa mais para os seus experimentos eles terem a mesma proporção dos braços dela, porém capazes de levantar mais peso, não poderia ser mais útil? Na imagem (que claro pode ser meramente ilustrativa) eles parecem menores que ela, então ou ela tem mais de 3 metros de altura ou a uma questão de ângulo na imagem porque os braços não ficam tão longe dos ombros dela.
    - Como esse tablet funciona, para reconhecer as espécies? Ela nem precisou apontar para a espécie ou tirar uma foto ou mesmo sacar ele, para que ele a enformasse, pelo menos não foi descrito nenhuma dessas ações aí, fiquei confuso, ali já achei que era um tablet mágico.
    - Ela quer entrar no grêmio camaleão por conta do familiar dela? Ou só porque foi o grêmio da mãe dela? Não saquei... Achei que tivesse haver com o objetivo dela lá “...desenvolver um método para ajudar àqueles da minha terra com algo que nos é essencial, o combustível...”, mas ai não conseguir achar uma conexão ( antes que diga algo, como “mais ai não posso revelar logo” ou “é só pensar um pouco” saiba que pensei sim sobre, e realmente não precisa falar logo de primeira isso e apenas uma observação. Acredito que o grêmio de transmutação fosse mais conveniente, transformar o combustível, velho em novo. Ou Mesmo um combustível que desgastasse mais devagar.
    cont...

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    1. Cont....

      01- Eles funcionam a bateria! Lembre-se sempre que em Ferrugem a tecnologia é bastante superior a da Terra. E como já expliquei, eles não são exclusivos para seus trabalhos no laboratório!

      02 - Não achei algo assim tão anormal o tablet da nossa heroína, de onde vem as informações? Releia o texto (Gorge R.R. Martin kkk): ""Trollniano" alarmou meu tablet, com quinze minutos de atraso, acessando a rede de dados de espécies comuns na Luz & Trevas que escaneei na Biblioteca Lunar"
      02.a- Ela escaneou um livro que tinha essas informações e criou uma rede de dados na memória do tablet
      02.b - Se ela escaneou um livro apenas com um tablet, ele deve usar a mesma tecnologia para detectar e reconhecer tais espécies por apenas se aproximar dela, isso não tem nada de magia, e sim tecnologia!

      03. Sobre os objetivos dela, sobre querer fazer um combustível para os pobres de sua dimensão ela deixa claro que esse não é seu único objetivo, releia o texto com isso em mente.
      Quando ela cita claramente seus objetivos na Academia:
      "(1) Um dos motivos para ter vindo à Academia é provar que tecnologia e magia podem andar juntas. " (...) "(2) Desde que cheguei na Luz & Trevas, não ouve um dia sequer que eu não pensasse no grêmio que desejo entrar. Meu segundo objetivo. O Grêmio Camaleão."

      Lógicamente ela teria que ser excelente aluna em alquimia para chegar a concluir seu objetivo quanto ao combustível, porém isso não tem nada a ver com seu objetivo de entrar no Camaleão!

      Ela tem muitos objetivos, podem ser louváveis ou banais, mas são os sonhos dela, e um deles, talvez não tão grandioso quanto ao primeiro, é ser um aprendiz do grêmio Camaleão como sua mãe!
      Obs.: Não entendi de onde tirou que isso tem algo a ver com Diglos! Kkk

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    2. Ah e sobre o tamanho dos braços, tem toda a razão, exagerei
      Ma já corrigi! ;]

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  4. cont...
    - “... tablet que havia se tornado, talvez, pela primeira vez na história, um artefato mágico tecnológico.” Claramente ela não assistiu o torneio unix na prova que ocorreu em sua própria dimensão, onde os mechas disparavam magias, lançadas pelos condutores, mas o “talvez” está ali muito bem colocado. Mesmo que controlados por trilhos eles tinham sim partes mais tecnológicas. Ou mesmo se ela lançar magias usando as mãos dela, não as de 3 metros, as normais que são robóticas, não poderia entrar nesse mesmo contexto?!
    - Outra questão, “Eletrônicos tem certa dificuldade de funcionamento na Academia.”, isso não afetaria ela, os braços de 3 metros dela, familiar e/ou robozinho? Seria de certa forma legal que ela desse uns bugs de vez enquanto. Em fim uma outra observação, misturada com sugestão.

    É isso no geral adorei, nem tive muito o que falar na verdade metade das coisas que destaquei não são de grande importância para história da moça, é certo o último tópico que pode ser abordado de maneira divertida ou até mesmo problemática. Mais uma vez não precisa refutar cada tópico, essas observações não têm intuito pejorativo ou maldoso.

    Abraços, beijos de luz e trevas!

    - Júpiter, digo Igor.

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    1. Continuando....

      01. O relógio mágico usado por vcs no torneio UNIX, era um item mágico (não Tecnológico) que fazia aparatos tecnológicos responderem a magia! Nesse contexto vc está certo!
      A fusão do Relógio + Máquina = Iten Tecno-mágico
      Mas se separados continuam apenas sendo um item mágico (não tecnológico) e um veículo tecnológico (não mágico)

      “... tablet que havia se tornado, talvez, pela primeira vez na história, um artefato mágico tecnológico.”

      Talvez, como bem salientado, essa fusão da BMS no tablet tenha tornado O TABLET um artefato mágico! Ao contrário do Mecha que sempre precisará do relógio ( Exemplo disso foram os Mechas da Tutor 12, que não eram "mágicos" pq eles não usaram os relógios, os controlaram com seus poderes psions).

      Seguindo essa linha de raciocínio, ela não conseguiria lançar magias pela Ami nem pela Umi"

      02. Adorei a sugestão dos "bugs" mas algo assim já acontece e sim aparatos tecnológicos não funcionam bem e acho q isso fica claro no texto
      - Canivete não consegue distinguir um cãozinho de um lagarto gigante
      - Seu tablet responde atrasado e não funcionou quando era para capturar o monstro!

      E outras dificuldades que não explorei
      Mas irei explorar, graças a sua sugestão, nos próximos textos!

      Obs: Júpiter está na história errada!

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  5. Gostei muito da personagem, quero que ela consiga entrar no grêmio mas provavelmente conseguirá nesse que cria as ilusões e espero que essa garota faça amizade com ela assim como também outros colegas interajam,ótima narrativa e torço por mais cenas de ação como essa bem descritas, ansioso pelos próximos acontecimentos com ela, já favoritei a personagem! 😊💕

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    Respostas
    1. Que bom que gostou Renan, prefere que ela entre no Grêmio Coruja? Quem sabe não seria essa a única opção dela! ;)
      Veja os outros textos e depois decida se é realmente ela sua favorita
      :D

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